Hoje é o dia do Fraccionismo em Angola. Por causa deste dia, milhares de pessoas lutam com o luto. Milhares perderam as suas pessoas. Eu perdi o meu pai.
Porque é que o perdi? Abnegação? Egoísmo? Coragem? Ambição? Idealismo? Ouvi histórias de bravura e tristeza, de vergonha e de raiva... mas são histórias, histórias que não me dizem quem o meu pai foi para mim, são histórias de outras pessoas, são momentos dele que habitam outros corações. Eu comigo nada carrego, nada tenho.
A minha filha entrou na minha vida e mostrou-me o poder do Amor. Sou pai, como foste antes de mim. O meu sentimento por ela, o teu sentimento por mim. Esse é o momento de ti que carrego comigo.
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quarta-feira, 27 de maio de 2009
O que ficou de ti...
27 de Maio de 1977 - Moxico, Angola
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4 comentários:
Meu irmão, não tenho palavras para te descrever o quanto o teu post me tocou...
Queria apenas mandar-te um grande abraço, e os desejos que possamos acompanhar as vidas de nossas(/os?) filhas(/os?) por um longo tempo e assim lhes podermos proporcionar muitos momentos para recordar...
Obrigado mano... ser pai de novo tem mexido muito comigo... mas foi mesmo bom ler-te... jah bless
Também a mim este post tocou profundamente. Fez-me regressar a essa época em que
eu vivia no Lubango.
Tenho memórias desse dia, estava em casa e ouvi pela rádio, pelos telefonemas de amigos, o que acontecera.
Claro que o que te poderei dizer não é nada que te possa consolar ou dar resposta às tuas questões, mas são as minhas memórias de um dia em que eu, jovem professora, cheia de ideais, fui confrontada com a notícia!
Também nunca entendi exactamente o que se passou. Mais humanista do que política, chocou-me a violência, a notícia de mortes e de divisões entre aqueles em que depositava confiança na direcção dos destinos do povo do qual eu fazia parte ( no fundo, ainda faço!).
Fraccionismo, nitismo, Nito Alves eram as palavras que soavam. Impressionou-me saber que Saidi Mingas tinha sido uma das vítimas. Simpatizava com ele, gostava do nome Saidi, ele era um dos ministros. O que aconteceu passou-nos um pouco à margem, no sentido em que perante o golpe, quem estava de fora não entendeu nada, como se tudo tivesse sido abafado. O problema não era nosso. A vida teria de voltar ao normal e ali no Lubango estávamos bem longe da capital.
No liceu “Mandume”, onde eu dava aulas, no dia seguinte, mais notícias sem resposta. Alguns alunos do secundário (antigos 6º e 7º anos do liceu) tinham sido presos. Eu leccionava Literatura Angolana a alguns desses alunos. Lembro-me de alguns(algumas), mas sobretudo do Tito, que nunca mais apareceu e escrevia tão bem. Ainda há relativamente pouco tempo tive nas mãos um poema que ele escreveu e que guardei sempre. Estive em obras e mudanças há dois anos, pelo quando fui ontem à procura, no local onde julguei ter esses poemas, não os encontrei. Sem procurar, quando aparecer, hei-de postá-lo. Prometo! Fiquei sempre com essa mágoa do desaparecimento desses jovens que não voltaram. Disseram-nos que tinham sido presos e estavam em Luanda.
Uma colega minha, de quem eu gostava muito, bem mais velha, com filhos já crescidos (dois deles tb meus alunos), a quem tratávamos por camarada Dr.ª Armanda, porque entre nós era camarada para aqui e camarada para ali, nada de doutorices, chorava. O Marco tinha sido preso. Como consolá-la?! No dia seguinte foi para Luanda, para saber do filho que lhe tinham levado de casa. Soubemos mais tarde que, considerando que o Marco era estrangeiro, cabo-verdiano, fora obrigado a regressar com a mãe (já viúva quando a conheci) à terra dos seus pais. A verdade é que nunca mais tive notícias deles. Tenho pena. Passaram-se mais de 30 anos.
A nossa vidinha continuou pacata e feliz até decidirmos, por razões pessoais, vir para este cantinho à beira-mar plantado.
Assim sendo, que consigamos transmitir muita ternura aos nossos filhos, já que o teu pai, a minha mãe, tiveram o tempo limitado e roubado!
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