Pois é, o menino que sempre tinha tido boas notas, que nunca sequer tinha posto a hipótese de algo diferente do que ir para a faculdade, estudar biotecnologias, descobrir o código genético, e outras coisas, embateu contra uma parede. Uma parede na Reitoria da Universidade de Lisboa que dizia "Não colocado". [leia mais...]
Aquele foi o meu mais terrível confronto com o fracasso... não entrei... Ri que nem um perdido por não ter entrado, gozei com o meu amigo por ele ter entrado... Mais tarde olhava enquanto o via a entrar numa vida de faculdade, elogiado por todos, invejado por um... eu! Em casa passei de bestial a besta...
Não sabia fazer mais nada, por isso decidi voltar para a escola, a dor da rejeição e do fracasso faziam-me olhar para tudo de maneira diferente. Já não ria, nem sequer sorria. Rapei o cabelo.
Olhava para os colegas que eram um ano mais novos que eu, e pareciam-me a anos luz de mim. Caramba, que sabiam eles do tormento que eu tinha passado! As longas horas de estudo, a incerteza, tão perto da adultidade... Não eles não sabiam. Andavam de "cueiros", debatiam-se com as notas do 12º. Não sabiam nada!
Os meus dias eram assim preenchidos pela amargura, afastei-me da minha velha vida, amigos, lugares, hábitos. Evitei tudo o que me lembrasse do meu fracasso, mas cada vez que ia para a escola voltava a saborerar a derrota, era um fraco, um incompetente que nem sequer tinha entrado na faculdade.
De vez em quando falava com o meu amigo, ouvia as suas histórias, as festas, as pessoas, o conhecimento, outra dimensão de vida, e eu... aqui.
Mas ninguém vive sozinho, e o calor de um sorriso pode enxugar um rio de lágrimas... (continua)
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4 comentários:
Se eu não soubesse como termina a historia, estava já lavadinha em lágrimas...
Rapaste o cabelo?!?!?!
Epá isso não!
"andavam de cueiros"...foi brutal, adorei!
Há males que vêm por bem... num é verdade?
E o cabelo até ficou mais forte depois, certo?
Quero ler mais!
Pois, trazes-me muitas memórias antigas...
O preço de ter entrado na faculdade foi o sofrimento do meu irmão, acompanhado do respectivo sentimento de culpa, e a distância que isso gerou entre nós, até então desconhecida.
Isso ao mesmo tempo que a revolução social da vida de faculdade e mais umas quantas crises de identidade... ufa!
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